Às vezes eu me pergunto se todo mundo sabe o que significa empatia?!
Num mundo em que a cada dia que passa descobrimos mais transtornos de personalidades, além de pessoas "comuns" que não se colocam no lugar do outro, nem ao menos tentam entender ou fazem tentativas de auxiliar o próximo. Claro que tudo na vida tem um limite, mas se você nunca tentar...
Empatia é a capacidade que uma pessoa tem de sentir e se colocar no
lugar de outra pessoa, como se estivesse vivendo a mesma situação. A partir da
empatia é possível entender os sentimentos e as emoções do outro.
Compaixão empática: é a compaixão focada em sentir e entender o sofrimento alheio. Compaixão de ação: consiste na compaixão que vem acompanhada de uma ação com o objetivo de reduzir a dor física ou emocional do outro.
Eu vejo aqui um mundo muito superficial...
Eu fui filha de um pai bem materialista em que meu primeiro estímulo quando criança era não gastar com supérfluos e economizar o máximo que eu conseguisse. Eu, criança, só queria comprar sorvete, e que para o meu pai sorvete era considerado supérfluo, aprendi muitas coisas sobre o lado material, quando cresci esqueci do resto. Esse cuidado com o outro nunca existiu, como exemplo na hora do jantar: a atenção em colocar os talheres na mesa para todos, jamais, colocava tudo só para mim mesma, meu mudo só tinha eu nele. O sentimental tampouco existia, minha mãe embora tenha tentado por diversas vezes explorar me puxar de volta, eu só conseguia vibrar na mesma sintonia do meu pai como um ser individual. Foram precisos várias chacoalhadas em relacionamentos que tampouco foram bons (ou na verdade até foram de certo modo), para me fazer acordar que eu vivia dentro de uma bolha, uma bolha de mim mesma. E o processo para entender tudo isso, foi longo e um pouco sofrido já que eu precisava entender as causas disso tudo, chegar na raiz dos problemas de pai e mãe, conflitos de uma filha única.
Eu descobri que isso também é um hábito de ser a única filha, pensar em mim e não nos demais, família pequena.Além do mais, eu tinha um certo medo na hora de olhar para as pessoas, eu encarava o olhar como portais, a verdade é que eu não me sentia apta a entrar na realidade de ninguém, e com isso desequilibrava qualquer sensação de ajudar alguém, já que com a parte financeira eu não tinha como ajudar, na minha cabeça para ajudar alguém financeiramente ia ser complicado, e novamente na minha cabeça só existia uma saída basicamente.
E para piorar, eu fazia uso de um anticoncepcional, que anos mais tarde me dei conta que me deixava à parte desse mundo, verdadeiramente eu era o Spock, zero amor e zero sentimentos, eu já acreditava que não tinha empatia ou amor, e não tinha a capacidade de entender ou entrar nos sapatos do outro. Embora em situações esporádicas, vide moradores de rua catando comida nas lixeiras, revirava meu estomago e eu me sentia absolutamente triste por ver aquilo tudo. Eu tinha um conflito de empatia ou um conflito de egos, ou seja lá o que for, que me fazia ter "empatia seletiva".
Felizmente, anos depois larguei o remédio, e cerca de 2 anos após comecei a ter os primeiros sinais de "humanidade", sentimentos que começaram a aflorar (inclusive chorar, não conseguia antes), após a experiência de 3 contratos embarcada em navio, aonde passei por situações realmente complexas, de carência, solidão, falta de confiança, medo, angústia, e crises de ansiedade, foi daí que comecei a olhar o próximo com bons olhos, pessoas desconhecidas e que vieram me ajudar, sendo num olhar, segurando a minha mão, me abraçando segurando minhas lamúrias e lágrimas. Após esse período, comecei a ver que pequenas coisas faziam a diferença no dia de um tripulante ou seja de um ser humano. O navio é um lugar hostil que tem poucos momentos de verdadeira felicidade, a tristeza é muito mais fácil de ser alcançada e lhe arrasta pras profundezas numa velocidade incontestável. E manter-se positivo até o fim do contrato é um ato de bravura, com certeza.
Iniciei o último contrato sendo mais grata pela oportunidade de viajar o mundo, agradeci os pequenos favores de colegas que me faziam consciente ou inconscientemente, as vezes uma funcionária que resolvia um cliente gritando na minha frente, eu comprava uma caixa de chocolate para ela em forma de agradecimento; Alguns seguranças que nunca conseguia descer nos portos por excesso de trabalho, eu comprava ímãs de geladeira nos portos e distribuía pra eles como recordação de um lugar que infelizmente eles não tiveram a oportunidade de descer e eu tive; Entregava brindes e chocolates na minha sacola da lavanderia pro rapaz que lavava e secava minhas roupas; todos eles me agradeciam pela gentileza (num ambiente que ninguém sabe o que é gentileza); gestos simples como esse fazia a alegria deles, e ao mesmo tempo a minha, grata por receber sorrisos de volta!
Outra dificuldade que eu tinha era em abraçar outras pessoas, isso foi outra coisa que após a experiência de "abrir" a minha vulnerabilidade, comecei a melhorar meus abraços. Alguns amigos diziam que me abraçavam e eu era igual à uma pedra ou que eu parecia um gato querendo fugir.. E era assim mesmo antes dessa vulnerabilidade me atingir num nível que não deu mais para segurar tamanha rigidez. O toque alheio me causava nervoso, não gostava que me tocassem, cariocas que dão 2 beijinhos, eu sempre odiei o beijo no rosto como cumprimento, fazia de tudo para não chegar perto, desviava... só aceitava dentro de um relacionamento.Me tornando hoje mais consciente, e sempre pensando de que modo posso contribuir com o mundo mesmo ainda dentro de minhas limitações.
A empatia deve vir de dentro para fora, sim.
Hoje eu sei que não foi um processo muito fácil, levei uns 35 anos para sair da bolha ou pelo menos fura-la rsrs..
Nesse mundo em que as pessoas estão cada vez mais conectadas dentro de suas bolhas tecnológicas, ainda tem gente como eu saindo de suas caverninhas em busca de mais sentimentos. O beijinho no rosto ainda me dá agonia, confesso.. mas um abraço eu sinto muita falta e aproveito bastante sempre que ganho um.
As pessoas se aproximam das outras por conta da verdade dentro delas, a essência.
Se ainda não abriu, abra, abra sua vulnerabilidade, olhe nos olhos do outro de coração, quando por ventura entrar na fraqueza alheia, esteja apto a cuidar do outro, seja com uma palavra doce que vem do fundo do coração, pergunte como pode ajudar, (nem sempre dar soluções ajuda), mas esteja presente para ouvir ativamente um desabafo, bater um papo ou apenas dar um abraço. Não tenha medo de desenvolver o amor para entrar na realidade do outro, aceitar-se primeiramente e aceitar o outro com suas diferenças e semelhanças. Esteja aberto para o que der e vier, sem medo de expor pensamentos, sentimentos e emoções sempre de dentro para fora.
Esteja consciente, sempre.
Humanizando e harmonizando.