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segunda-feira, 14 de abril de 2025

Escassez Européia

Alguns dias atrás, eu comecei a me dar conta do quanto o ser humano, no geral, não está preocupado em incentivar o outro.

Certamente, em meu trabalho como guia de turismo, tenho notado que, enquanto tento saber um pouco mais do cliente e suas andanças pelo mundo, muitas vezes, no meu momento de partilha, sinto vontade de trocar um pouco o meu ponto de vista pela visão dele. E, às vezes, tenho vontade de compartilhar que já morei onde ele mora ou que eu mesma já visitei o país dele.

Eis que me dei conta de que eles não parecem felizes quando conto que já estive lá ou que já morei lá. Ou melhor, a palavra pode não ser exatamente felicidade, mas privilégio. É como se, de alguma forma, na cabeça deles, eu fosse um ser privilegiado por já ter estado no país deles e, desse modo, eu não devesse ganhar nenhum incentivo por parte deles.

Eu, na minha sincera busca, perguntei aos meus colegas guias se eles falavam sobre suas viagens e vivências no exterior com seus clientes. Caramba, foi incrível e unânime como os meus colegas disseram que também notaram que, quando comentavam com os clientes sobre suas experiências no exterior, logo deixavam de receber gorjetas. Consequentemente, passaram a omitir essa informação ou mesmo mentir a respeito.

Para mim funciona de forma contrária. Poxa, se eu escuto de um funcionário que contratei para um serviço (que seja um guia de turismo local) e essa pessoa me diz que já esteve onde eu moro, eu daria um incentivo financeiro, sim. Afinal, no meu entendimento, se essa pessoa consegue viajar ainda mais além, eu ficaria muito feliz em poder ajudar de certa forma e incentivar essa pessoa (de um país emergente) a realizar seus sonhos.

Mas então, compreendi que, na realidade, o cliente que chega aqui no Brasil e escuta que você, guia, já esteve no país dele — seja a trabalho ou de férias — subentende que você tem uma certa condição financeira. Talvez porque, no fundo, ainda exista aquela visão colonial... De que o outro só deve receber incentivo se estiver “abaixo” — no lugar do “coitadinho”.⁣

Eu diria que não é somente bizarro — e posso provar!

Semana passada, conversei com um cliente americano. Ele me disse que trabalha com implantes dentários em uma empresa brasileira que é considerada a melhor do mundo atualmente. Comentei que minha mãe, anos atrás, recebeu uma proposta para trabalhar nos EUA. Na época, ela trabalhava com Prótese Dentária, e eu disse que ela não aceitou por inúmeros fatores. Por fim, eu mesma não informei que já havia ido aos EUA — omiti a informação, já como aprendizado anterior. E, nisso, ao lado, uma inglesa do grupo ouvia a conversa. Ao final do tour, vi o marido dela separando o dinheiro para mim ou para o motorista. Ela sussurrou algo no ouvido dele e, simplesmente, na hora de se despedir, ele me deu um singelo aperto de mão — e nada para mim ou para o motorista. O dinheiro que ele havia separado sumiu, ou seja, voltou para o lugar de onde havia saído.

Pra mim, ficou muito clara a mensagem.

Com toda a experiência que tive trabalhando na Europa (navio) durante esses dois anos. O Europeu ainda busca explorar, sem se envolver, e quase sempre é sobre tirar vantagem do próximo — raramente sobre compartilhar. E ainda, 'egoicamente' falando, agem como se ainda fossem os grandes filósofos que a humanidade um dia teve, mas não absorvem tais conceitos e conhecimentos para o desenvolvimento sustentável da espécie humana.

Ao mesmo tempo que desconhecem o significado da palavra gentileza, também desconhecem seus princípios básicos como ser humano.

(Não estou generalizando… conheço europeus bons de coração, porém são escassos.)

Universo, O que está certo sobre isso? De certo, o que me incomodou um dia, está dentro de mim, seria ainda um remanescente de uma crença limitante de escassez? Fica a reflexão.