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quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Nós somos abençoados

Hoje levei uma facada em meu peito, 

dessas que o sangue sai sem sair, 

dessas que fere sem arder, 

só lagrima, a escorrer. 


Quando cobramos de alguém algo que não sabemos que temos, 

Quando um pai não da amor na mesma proporção que imaginamos,

Quando os filmes não retratam nossas realidades, 

Quando não sentimos o abraço de um pai ou uma mãe, 

É quando deveríamos parar de cobrar deles, o que nós poderíamos fazer por nós,

por eles. 


E hoje, após quase 2 anos, eu parei e pensei em duas coisas:

1- Sempre acusei meu pai da falta de amor, sempre achei que falta de carinho fosse tudo, e ao mesmo tempo nada, o nada comparado aos outros que tem demais e não dão valor, e o tudo pelo amor em nosso planeta ser o complemento da vida.

2- E a cobrança de tudo o que eu sentia, eu cobrar o que um pai deveria sentir ou não por uma filha ou por uma família, quando eu mesma não sentia ou mesmo não o fazia. 

Relembrando as últimas horas que tive com o meu pai, semi-lúcido indo abraçar à morte no hospital, foi a primeira vez que eu o abracei, não um abraço normal, mas o sustento para leva-lo até a maca. Um abraço irônico de tantos outros que eu nunca recebi dentro de casa. 

E uma frase conflitante sempre me vem à cabeça, desde que a li: 

Não se dá amor, quem não tem. 


Como é possível pais ou filhos não compartilharem do mesmo sentimento em Terra?

Pode existir uma pessoa incapaz de dar ou mesmo receber amor?. 

Eu por anos cobrei, mas eu mesma poderia ter sentado, conversado, tentado entender, e eu mesma cobrei por cobrar, e neguei quaisquer sentimentos mesmo pós vida, engoli mesmo minha frustração por não ter 1% do que eu via nas novelas, uma distorção da realidade que possivelmente viraram distúrbios, causaram quebras nas relações afetivas, desacreditando em minha própria capacidade muitas vezes, são como feridas abertas.

Não é um texto para sentir pena, é apenas um vácuo sentimental, falta de um sentimento tão nobre. Conheço pessoas, pelas quais tentaram uma aproximação, porém foram rejeitadas por tentarem compartilhar afeto aos seus familiares mesmo que não o tenha recebido, mas dentro delas mesmo apesar da dureza floresceram rosas. 

E anos mais tarde, muitos de nós, de certo viramos reflexos de relações incompletas, atraímos inúmeros padrões de repetição, centenas de cacos refletindo ausências. São anos de catarse dissolvendo os danos causados tanto por pais inconscientes quanto por nós mesmos.