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terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Favela ou Desafio ?

Eu sempre questionei o porque as pessoas buscam fazer passeios em áreas pobres como as próprias favelas do Rio de Janeiro, e em outras comunidades pelo mundo.

E hoje parece que entendi a razão, talvez pelo mesmo modo quando buscamos a natureza em si.

Buscamos o desafio, a sensação de perigo, o desconhecido.

As pessoas com seus olhares sofridos,
as marcas na pele seja pela idade ou pelo tempo, o chão de terra batida ou o calçamento emburacado, a falta de saneamento básico, a podridão, a natureza in natura, o rústico, insólito, as crianças em sua mais pura inocência no meio do nada sem responsabilidades, sem julgamentos, sorriem felizes diante do caos, o caos humano, o caos indigesto, mas o caos que brilha diante dos olhos de outros seres humanos que tem uma situação econômica "superior", são os mesmos que buscam a natureza pura, a ingenuidade, a essência, nada mais do que a matéria intocável, sensível, aparentemente sem regras, desordenada, divertida, apesar de muitas vezes sofrida.


É o mesmo, que quando vamos fazer um mergulho em águas profundas, buscamos o desconhecido, tememos encontrar monstros marinhos... Ou mesmo quando vamos a uma floresta temos medo de encontrar víboras, aranhas, leões, o desafio do inexplorado, o desafio de nos sentirmos uno com o mundo ao nosso redor. De ganharmos novas percepções, novas respostas, novos olhares, e novas formas de pensar.

É o que nos modifica por dentro, nos faz dar mais valor a nós mesmos e à nossa realidade, dá cor a nossos sonhos, movimenta nossos fluxos de energias, também cria novas frentes evolutivas não só pra quem visita, mas pra quem é visitado, por uns momentos criam-se identificações com o Ser, o eu interior, o 'in natura', somos mais do que eu, somos você, somos um todo, somos um. Posso ser você, amanhã, fui você ontem, e vida que segue.


Não nos deixemos abalar pela miséria da alma, pelo auto-flagelo, pelo abandono, pela depressão urbana. Eu sempre estarei aqui subindo e descendo essas escadas, cumprimentando, ensinando e aprendendo com vocês, eu sempre visitarei vocês, seja eu branco, amarelo ou vermelho, quero você evoluindo, enviarei meus amigos, eles também vão almoçar com vocês, vão dançar com vocês, e o ciclo continua intermitente, até que a favela não seja mais um flagelo visual, seja um espaço comum, pobre porém rico, rico de olhares, cores, rico de experiências, rico de jornadas, de pessoas, de sensações vívidas ou apenas vividas.



segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Terra, devaneios..

Em pensar que tudo começa e nasce na terra.
A terra que se planta, é a mesma que pisamos, crescemos e nos transformamos,
nos reinventamos todos os dias, com chuva, na seca, brotamos novos, caímos velhos, enraizamos famílias, compartilhamos significados, existências.

O sapato que a gente calça; Conforto esse que se esconde numa marca, numa reafirmação de quem somos, ou não.

O mesmo pé descalço caminha num chão de terra batida, por entre pedras, sente as nuances da terra, a areia nos dedos, a firmeza no tato, o desengonçar. É o mesmo que transcende Nike, sandálias, plataformas, distorcem e se contorcem num simples caminhar.




O caminhar torto e desequilibrado de uma criança que aprende a andar. Com ganas de ganhar o mundo, sem pressa, observador, caminha.

O mesmo chão que rasga, abre, emburaca, navalha, se cobre e invade. É o mesmo que se ama, se perde, implora e se sente.