A moça atrás de mim voava pela primeira vez, não era asa delta nem balão, ela estava num avião, pequeno e leve. Quando o avião começou a ganhar velocidade para sair do chão, a menina soltou um gritinho de pânico.. nota-se, era o primeiro vôo da vida dela!.
Se encantou com as nuvens, com a altura e com o céu tão pertinho.
Tá até agora grudada na janela como aquela menininha encantada pela bola de sorvete a ser devorada pela primeira vez.
Os olhos brilhando de surpresa vidrados naquela paisagem quase surreal, entre céu e mar, sonho e devaneio. Quisera ser um pássaro naquele instante e para sempre voar e nunca mais voltar.
Passado o mar, a mesma menina-mulher, abre um largo sorriso e diz mesmo que está amando estar presenciando as nuvens-carneiros, as montanhas recortadas, um rio que passou, as cidades lá em baixo.
E ela pergunta:
- Por que o comandante não informa as cidades por onde estamos passando?, a quantos pés estamos?, ...
E a menininha sonha alto, ela quer mais, ela compara o avião ao carro, a turbulência à uma pedra no caminho..
E ela suspira a cada momento de felicidade, diferentemente de tantos que voam todos os dias e que já se esqueceram da surpresa, já nem sentem mais os solavancos, das casinhas em miniaturas, da pseudo maquete da vida real.
E por fim, o avião pousa.. e a janela já não chama mais atenção. Mas a menina está dentro dela, e a mulher acorda pra realidade com aquele brilho no olhar e aquele sorriso largo de quem foi feliz de verdade por 30 minutos como se fosse um pássaro enfim pela primeira vez.